Era eu
somente um Mar
balançando
pra lá
pra cá...
Como num descanso
pós tempestade
aquelas corriqueiras
Da vida de quem é navegado
e sempre a navegar está
sem parar
Até que lá do alto
de repente
chega
cheia
ela
a Lua!
Olhou dentro de mim e
assim, ligeiro
foi como o fim e o começo
Tudo novo, de novo, e misturado
Ato contínuo
Transbordei!
Como não? Quem nunca? Como pode? Quem segura?
Resistir nunca é opção frente a tamanha força
É a Lua! Cheia! Do nada! Imensa! Enorme! Poderosa!
E ainda sorri matreira, sem querer encrenca, se esbanja
Menina mulher vivida! A lindeza de uma vida inteira!
Soberba da sua beleza, da sua safadeza...
Brilho natural emprestado do sol
que homenageia na lourice das madeixas
Olhar de índia, astuto, curioso, verde como a mata!
E ela gesticula...e ela gargalha...e ela fala...
das conversas que teve com as estrelas,
das viagens intergalácticas,
dos segredos do universo,
ela sabe de todos, de tudo
que me fascina, que me encanta
que me lambe o cérebro!
Me sacode, me enche, me alimenta, me desafia
Tanto e tudo, em mim profundo, vem à superfície!
Emerge só pra vê-la
Todos queremos vê-la!
Exagerado, subo às margens, louco, insano
Desafio os muros e provoco os limites
Ondas imensas! Ondas gigantes! Ondas inconvenientes
Abalo sísmico fora de hora, impróprio pormaiores
Maremoto de proporções cínicas
É muito! É demais! É inconsequente!
Basta!
O escândalo
descamba
em
escombros
Toda a grita
se fez
silêncio
em
instantes
Ela não veio pra isso
A Lua,
com sua graça perdida,
se enfurna
pra dentro de uma nuvem
Como quem se envergonha do espetáculo
ridículo
de um mar exibido que
não tem noção do seu lugar
e do momento
e da hora
Agora
eu faço as pazes
com minha enseada
Devolvo as coisas
aos seus lugares
E convido barquinhos
e canoas
pro meu peito,
novamente
berço da paz.
~
Espero
a Lua
que minguou
e levou
seu verde
seu Freud
suas covas
embora
Encaro hoje
a Lua nova
Aquela sem rosto
que ruboreça
frente outra pataquada
de mar besta.
~
Agora torço pra que a Lua tenha
compaixão e benevolência
pra entender
que o mesmo mar
exagerado e veemente
também é bom de navegar.
É salgado mas maleável
Se adapta fácil a qualquer lugar
Até se num potinho
de ficante bem certinho
ou casinho indefinido
ela um dia decidir
que é ali o seu lugar.
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