terça-feira, 12 de agosto de 2014

horiz0nte'm Mim

Eu gosto daqui
Essa cidade de suscinta solidão
Essa solidão tão necessária quanto mal compreendida
Me deixa calmo
Com vontade de penetrar mais fundo dentro de mim
Ficar nu perante meus olhos lacrimosos
E eu vou
Fico quieto ao som dos carros, buzinas
E do barulho das minhas sinapses
Caraminholas surfam meu consciente
Enquanto o lanterneiro, algo aqui dentro, passeia
Feixe de luz pelo tudo que sou e não sei de mim
Eu, essa coisa que não existe
Toma forma a cada minuto de ignorância
Algo se move por debaixo do capacho
À porta dos vários caminhos da minha cabeça
Estou agora em cada esquina dessa enorme cidade
Sou cada carro parado no trânsito
Sou cada pedestre impaciente
Sou cada apartamento de luz acesa
Serei menos desse todo a cada dia
E serei novo a cada memória do passado
Que se foi, que era, que nunca mais
Somos o que podemos ser
E o mundo
O que é de ser, de vir
Devir
O último gole no café à mesa
O último trago no cigarro que me permite a vida
Até quando?
Até logo
Até mais
Sentado no quarto do último cômodo do abrigo
Abrigo em mim mais coisas que queria
Alço vôos imaginários que não posso alçar
Pra que?
Por mais que insista em saber, busco saber menos das coisas
E das pessoas amor
Amor fati
Em vez de maldizer, afago
Afago em braços moles todos os males
Os assassinos, as crianças nas ruas, os pobres de espírito
Afago cada centímetro da faca que me dilacera as entranhas
Sofrer tem o mesmo barulho de uma boa gargalhada
De mãos dadas com os segundos do porvir passeio pelas suntuosas construções
Do imaginário coletivo, desses que se dizem loucos por não saberem amar
Sim, há amor em SP
No RJ, no ES, em AM
Há o que tiver que haver, há o que tiver de ser
Há o mundo onírico, há um mundo sensível
Há até crueldade cínica, há um pórtico partido
Passo em frente à tal tabacaria descrita pelo poeta
O dono está na porta e compartilha comigo aquele mesmo sorriso
Ontem e nos dias atrás de ontem, ignoraria como as massas o fizeram antes de mim
Hoje respondo, digo-lhes, de corpo presente e sorriso nas faces
Ele e tudo o mais sou eu, isso e aquilo também
Parto mais uma vez rumo a próxima esquina de mim
De ti e dessa cidade
São Paulo
Onde tudo é uma só pessoa
que se traduz em cinza, concreto, sonhos e gente apressada
O que será do amanhã? Ninguém responde por que não pode
Eis aqui o nosso amanhã
Feitura de um agora com gosto de amora
E uma rima torta como o sorriso de quem vai embora
Feliz por saber que a hora de partir é a mesma hora que se chega.