quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Fortaleça Fraca Fortaleza

Sou meu rei destronado, desmoronou o meu reinado
as fadas pararam de brilhar como antes
bardos perderam suas espadas cantantes
e o bosque encantado, outrora florido, está seco e acabado
Por onde o olho vagueia se veem destroços,
cacos de risadas alegres e ruínas de amores mal terminados
tudo pela metade, essa é a nova realidade desse campo minado
angústias espalhadas pelo solo, sonhos de carne roída até os ossos
As muralhas, intactas, preservam o nada que restou
catapultas, balistas e bestas, e a pira ainda acesa
mostrando que houve resistência, violência à milanesa
até o último instante (orgulho!) soube infligir dor em quem ali perto passou
Na solidão, chuto os(meus ou eus?) pedaços pelo chão
lembro de como foi bom sonhar que aquilo ia durar
e recordo com pesar que sempre soube nada adiantar
tentar conter a pressão que o outro, exército, exerce contra os muro da minha ilusão-coração.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Revoada dos Passos

Acrescento um molho diferente e vejo por mais tempo
com esse colírio em forma de nuvens conta-gotas
Deslizam em mim as sedosas mãos da vida
por todas essas vias brotam fungos de saber profundo
Horizonte recém descoberto, jogo pro alto o (tido como) tudo
de palmas estendidas, abraço novos ares cerrando nada nas mãos
Nada me espera, e eu não espero nada
de mim muito menos, eu sou o caminho trilhado!
No lombo de uma águia voo por terras de nanquim
passeio ao lado de pinceladas que não conhecem o fim
Quadros enormes de paisagens formadas por braços
pernas e corações.
Meus poros respiram essa tinta fresca de gente (e gerações)
viciada em sentir e sentir-se

,amada ou o que importar mais
Menor é o impulso de tentar entender o vulto onde tudo
encontra o nada e resulta em algo mais vago ainda.
O importante é a imensidão do que faz a vida um tesão!
Jornada iniciada e sem motivos para parar, volto sem nunca sair
fujo, sem ter o que temer
chego, sem lugar para ficar
corro, sem pressa de alcançar
vivo, só por teimosia de ser feliz!

Dedicatória Numero Dois

"a pesar dos espaços limitados
das curvas acentuadas
dos inícios sem fim
e das palavras não ditas
eu amo vc
descrevo em versos a importância da sua luz na minha vida
sinceras e imprecisas, as palavras saem
alçam voos
pinceladas de um gesto do coração
como ele, e tudo em mim, sou pouco
falho, cometo erros
e não paro, até o fim
e enquanto pulsar, vou te amar
quero guardar aqui toda essa intensidade
que vira arte apenas por instantes
dela faço suporte para materializar
a inexplicável beleza de um sentimento sem fronteiras
início
meio
e fim
apenas certeza é o que me motiva
e é ela que deposito em suas mãos
para que sempre lembre
ao olhar dentro de mim
por essa fechadura versada
que eu Amo sim
vc
do início
pelo meio
e, juntos,
até o fim!"

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Lânguido Vertical

Reverências exclusivas às gargalhadas mais leves.
O humor deve ser pleno na sua simplicidade. Rebuscado só na competência de fazer-se confortável porto seguro de agitos carentes de descanso.
Prezo pelo sorriso escancarado, que deve ser o mesmo diante de um pôr do sol na praia ou de um olhar ébrio, às 3 da manhã em uma calçada qualquer da vida.
O tom de voz deve ser acompanhado de um vestido despojado, adereços fartos espalhados cuidadosamente por pulsos, dedos e tornozelos. Nada que chame mais atenção que o conjunto da obra, nem seios volumosos ou risadas escandalosas.
Saber se posicionar estrategicamente é uma qualidade admirável. Assuntos divertidos, olhares furtivos, dançar no meio do salão como se ninguém estivesse olhando. O espírito mostra as asas nos singelos detalhes das mãos acariciando o ar, no jeito de segurar o copo pela borda para não esquentar a bebida ou naquela sumida que só se percebe quando volta com uma gelada na mão quando ninguém espera.
Não há carência de cobrança. Vento bom é brisa. O desenrolar-se dos afetos dão-se com tranquilidade, como a de uma tecelã que, paciente e precisa, não tira da velocidade sua arte. Apenas tece, sem pressa, o mais belo que o agora lhe inspira a proporcionar. Mistura cores com amores, trança os sentimentos com precisão cirúrgica pacientemente. Há que se respeitar os movimentos dos desejos. Sem pressa e sem preguiça.
Quem há de querer o bem pratica-o sem pudor, enxugando o restinho de catchup no canto da boca do outro, confiando na sua confiança sem si, tendo fé em qualquer investida conjunta de prazer, seja ela uma festa chata ou uma exposição do CCBB.
Tento abraçar o máximo de potências e potenciais. Gente leve me faz flutuar em nuvens de novos sonhos. O amor brilha mais nos outros através dos meus olhos.
Gente que me proporciona devaneios apaixonados no meio da noite, obrigado.
Meu Amor é todo seu!

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Positivamento de Transbodidade

Asa aberta
a onda me leva
sou foca
sou corsa
sou passarin'
Vejo verde profundo
disparo e mergulho no mundo
vastos campos
vários encantos
o imenso de mim
Acordo das cordas
acordos fora de hora
tentam atar
tentam calar
mas o vento corre de mansin'
Sou meu momento precioso
chupo a vida até o caroço
faço da bossa troça
plantando sementes sem pudores
e vou por aí
apenas colhendo sorrisos
e amores!

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Batei-me, Saudosas Botas!

Foi assoviando uma doce melodia
à luz do Sol de meio dia
que ele se deu conta
"essa onda, foi daquela ponta"
Já tinha decidido parar
a ficar sem tragar
a erva colorida por um tempo
isso foi no fim de novembro
Andava meio triste
não tolerava nem um chiste
diziam que foi culpa dela
('ele é do tipo que amarela')
Recusava-se a admitir
também não sabia mentir
preferiu se recolher em casa
e parar um pouco com a fumaça
Queria mesmo era queimar a mufa
fazer da cabeça uma estufa
para dar vazão a grandes ideias
(em vez de pensar naquela mocreia)
Não demorou e um filho nasceu
um projeto lindo como um doce camafeu
e ele enfim foi feliz
(e acabou esquecendo aquela tal de Liz)
Saiu de casa sorridente
amigos o esperavam bebendo fortemente
e fizeram festa quando ele chegou no bar
era hora de se embriagar!
Comemorou todos aqueles dias de reclusão
virando uma tequila sem a menor noção
mas antes de ficar na mão do palhaço
com dois dos seus, retirou-se do espaço
não iam demorar nadinha
Pedro tinha só uma pontinha
seria rápido de matar
foi o suficiente pra sufocar
a garganta desacostumou
"acho que depois dessa eu me vou"
despediu-se ao findar da ponta
mas deixou dez conto pra ajudar na conta
Na luz vermelha a avenida atravessou
mas teve um ford que não parou
Foi tudo tão rápido e forte
que ele só teve a sorte
de lembrar dessa história
e foi sua única memória
antes do fim
mesmo assim
deu tempo de sentir saudade
o que, aquela altura, parecia maldade
que viesse colar na sua retina
o sorriso daquela menina
a qual ele jurou não querer ver nem amar
e justo ela seria a única estrela no céu do seu último olhar.

domingo, 3 de novembro de 2013

Nota de Rodar os Pés

Tradução simultânea, cordas, piano e dança.
Movimento de esperança, melancolia em dor menor.
Dedos acariciam lembranças de amores perdidos
todos correm para se salvar das desventuras impossíveis de evitar.
O teto das certezas desmorona na cabeça das notas.
Volta à dor, sente a alegria de estar só cercado de bom humor.
Os dentes do piano ajudam a falar sorrindo, travando a língua de vacilar
na hora do beijo o importante é se declarar, lambuzar
na boca infiltrar todo o sentimento, oitavado ou suspendido.
Transbordar o desejo quente, lamber como se fosse morder
Morder como se fosse chupar, sugar, amalgamar.
Rufem os oboés da carne! Transcendência espiritual pronta para voo alçar!
Reparo na corda que me sai da cabeça, ela tem som de saudade.
O tempo passa rápido, meu rapaz, não tente a ele se atar.
#
Uma ogiva nuclear explode em mim toda vez que me vejo Amar.
Sou sem medo, sou um bobo toureiro
Vago meu corpo vago de recheio
procurando adubo pro meu campo de centeio,
dobro esquinas em origamis fuleiros
e entrego aos meus encontros como manual fosse
de ensinar quanto é doce o receio
de perdê-los a cada hora do recreio.
o Tempo é curto e Amar é imperativo!
Até amanhã ouviremos um suspiro no silêncio
de um momento de inspiração carente de talento
(purificado devaneio transformando em alento)
Tranco o instante à sete chaves
mas deixo frouxo pra fuga
gosto de ver escorrer do rosto as rugas
Ao som de tango à luz da Lua, penso
seria melhor voltar pra rua
e provocar minha alma outra vez?
Deixe que os espíritos se divirtam
enquanto eu me engano com meias verdades.
Contando as favas e as histórias
de um cara que sonha em ser feliz
mas ao final de todo dia
acaba se tornando uma lorota.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

riODEjaneiro

Eu não quero ir pra Paris!
Não sou deputado ou imperatriz
que precisam se afirmar.
Sou do Rio de Janeiro!
Terra de sol, rua e pandeiro
de amor na Lapa e no terreiro
de sentir no quadril o fogareiro
que um tambor pode provocar.
Eu não quero ir pra Paris, seu dotô!
gosto mermo é duma farra
de cerveja bem gelada
sentado na beira da praia
isso o sinhô não acha lá.
Eu nunca fui pra Paris
mas sei que faz frio de matar,
a língua é meio estranha
faz até biquinho pra falar.
E isso, seu moço, não costumo desperdiçar,
à minha preta pode perguntar,
quando eu faço meu biquinho
eu sei muito bem usar
no calor do chameguinho
faço a coisa esquentar
e ela me arranha feito onça
muito louca pra beijar!
Eu não quero ir pra Paris!
Aquela torre cheia de luz
não me faz lacrimejar
como a bomba da PM
ou na hora do Império desfilar!
Eu não quero ir pra Paris!
O carnaval já vai brotar
peço pra que pare insistir
que tire a mão de mim
e deixa eu vacilar!

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Bailarinos de Fogo e Rua

Se encontraram
esses corpos
de longe se olharam
e dançaram juntos
no ar
o dela rodava
o dele pirava
eriçado, ficou sem saber
o que fazer(?)
já sabia
bastava re-conhecer
Faceira menina
pensa que manobra
seu corpo labareda
O dele
bicho criado solto
sacou de primeira
estava ali na sua frente
a sua porta bandeira
Venceram exu em encruzilhada
que teimou em atrapalhar
um encontro milenar
de voltar a acontecer
O primeiro toque
fez amanhecer
a certeza
uma unidade jamais experimentada
um reflexo tão forte
da essência de um corpo
no outro espelhada
Em tempos de prisões
opressões programadas
esses livres corpos
ousaram se amalgamar
e reafirmar a liberdade
que também com o corpo
se deve partilhar
Divina comédia da vida regrada
quem vive pelo chão da rua
pelo brilho da lua
e se encanta pelo desconhecido da estrada
ontem sentiu de longe uma festança
dada pelo encontro implacável
de duas almas ciganas
e dois corpos movidos a dança
que da vida não esperam
além de tudo
mais nada.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Fezes menos quem cheira bem...

Jeitinho meigo de fazer crescer pelos nos cotovelos de cotovias tristes.
Morreu deixando as narinas abertas, respirando novas cores, sabores, gazes e amores, assim que avistou no horizonte a fonte de todos os seus dessabores.
Não tinha mais dúvidas, contou com sua astúcia e correu pra onde era mais longe.
Em outro plano, desgastado e vestindo só um pano, surrado, deu três pulos pro lado errado e se fodeu. Como se não bastasse toda a correria, corrigiu a pontaria, viu o povo em romaria e disse assim:
"Manda parar com essa palhaçada sem tino, cessem os tiros, mordam seus lábios e olhem pro vaso. Lá, estático e boiando estará seu futuro te olhando. Limpem suas bundas corretamente e sejam felizes!"

Foguinho

uma vontade boa de te fazer um cafuné
bateu em minha porta
e eu
a
bri
senhoras e senhores
o coração
pula de um pé só
dá uma rodadinha
e vai
feliz
pra rua!

Key que é isso?

Esqueço as chaves de casa
fico na rua
sem rumo, sem lua
apenas com os trapos de bunda
Escolhido o caminho
eu sou de mansinho
perdido nesse mundo
movido a protestos e tumultos
da minha cabeça
um sussurro
tô sozinho não
tem mais gente sem túmulo
Vamos nos encontrar no bar?
Deixar a hora passar
o vento cortar a carne de quem não se cobre
com panos finos ou esperanças mortas
Viajo, me engajo, bêbado a essa hora
um abraço pros descamisados
um tapa na cara dos amarrados
vou sem tempo colher rosas
ah!
um beijo no ombro pras invejosas
(de ambos os sexos, horrorosas!)

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Aumente Calmamente

Como se faz para amansar uma calma alma?
Destroçar seus sonhos
Abalar seus alicerces
Digerir seu útero
Duvidar de mansinho nesse sonho acordado
Movimentos e mais horas
Os corpos calados sopram suas asas embora
Nada passa de uma encenação
Personagens vivos em folhas mortas de um livro
lutam pelo direito de horrorizar
Calma alma
Cálido será seu prazer no movimento
dos quadris vulgares, fábricas de mocinhos e bandidos
e túmulo da Arte!
Não faça sua as palavras minhas
seja tua língua, feroz, e lamba tudo
da base até a cabeça
Cuspa saliva ácida, tua poesia
Mate esses sorrateiros seres, ricos coitados
Deturpe a realidade virtual, gente de carne e osso
Meus filhos, meus perjúrios
Palavras silenciosas de calmas almas
calamidade iminente em forma de inércia asfixiante
a alma deve mentir...

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Morte e Dia Sereníssima

Resgatando um tempo simples
onde era marujo em águas serenas
A alma se despede de ontem
cheia de feridas nos pés
Lágrima de alegria
pois os passos foram firmes
e não escolheram terrenos
de braços abertos,
pisco faceiro para o amanhã
ainda descalço
ainda inseguro
ainda com fé
mas agora sem medo!

domingo, 8 de setembro de 2013

Hoje são as Cretinas Cracias

Diclofenaco de potência arremessa-se em massas pelas ruas...
Substrato laranja de pouca durabilidade desestabiliza o leme.
Patriarcado obsoleto martela e pulveriza, esperanças, filhos, vidas
Reticências...
Morfina na jugular pra ajudar passar
momentos invisíveis de mudança e a velha, enrugada e triste
vovó Esperanza, procura vitaminas em sua estante.
A truculência da natureza tão indiferente
assiste a tudo de camarote e come pipoca de micro-ondas
Ondas essas de mar aberto a poucas possibilidades e um só horizonte.
Afeto e concreto nublam preferências moderadas de prazer
que muitas vezes prometem passar mais tarde para sei lá o que
Minha janela dorme aberta mas não é convidativa.
Grades para os homens, tela para os mosquitos.
Verbo cerrado, incontáveis tempestades nos cercam
fardadas ou não, a porrada sempre surge de gente especial
amada, importante, superficial
Inconstitucional deve ser meu coração e minha ingenuidade
continuo escrevendo obscenidades subservientes à loucura
mal vistas por olhares calejados
acostumados a serenidade de facilidades, a simplicidade explicita
até mesmo a rebuscadas construções sistêmicas
trocaram as cortinas "de Cartes" por persianas coloridas
Tudo é um show!
Freak, ou na lixa,
é a revolução, Baby!

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Acorrestado de Pedreiras

É grande e é oca
Estante entulhada
com silêncio e bagunça
sentimentos
sobretudo paúra
Espaços enferrujados
enorme para os lados, pois
de pequeno significado
Amedronta, diminui
as pessoas que ali se esmagam
flagrando seus fracassos
definhando na desfaçatez e auto piedade
[flagelo sagrado esse abraço de espinhos]
As frequências que diluem horas
atiçam o lado escuro
da memória
dando luz sem parir
a algo ofegante
espasmando sorriso desfocado
a
cada
milhões
de
segundos
rasteira essa felicidade
balsamo das negras cicatrizes
É gaiola de ouro
sangue, suor, lágrimas
casa do escárnio, abrigo de loucos
lar, doce lar

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Remoendo Retumbâncias

Decidi optar pela pior opção.
Saí do lugar, fechei o portão.
Não tinha mesmo o que falar, era assim
Ai de você se duvidar de mim!
Te digo uma coisa, vai entender
Mais vale perna roçando que boiar no Tietê.
Morre menos, marujo.
Esquece a borboleta
foca no casulo.
Mesmo que interrompam o seu lugar
pare pra pensar
deseje o olho vidente
e antes que a poeira assente
tente a Luz espiar.



ATO


Gostaria muito que fosse verdade
se tivesse
um espaço pra alugar
entre o sucesso e a realidade

OTA



Dia e noites sem dormir ou foder desmancham a cabeça de qualquer peregrino russo.
A contagem de linfócitos e/ou espermogametas encheriam uma caixa de grampos...

Mortabilidade Fogossintética

Traqueostomia
estou só
tubos e conexões a parte
só desce o pior
Manutenção de veia cômica
faz da safena a ponte
entre os ismos intolerantes
e o estilo da fonte

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Sombrilho Opaco

hoje o Amor me bateu
cuspiu na minha cara ódio
me humilhou sem propósito
e se escafedeu
minguei no canto escuro
sou eu todo um beco
de passado e sem saída
apontando desespero
penso em pretérito
tempo onde ainda havia mérito
mas era só verbal
nada tão sério
a ponto de semear
ilusão adocicada
em forma de maçã envenenada
que fez a vida se transformar
num grande brejo
destruído e sem cacos a catar
sumo
renasço na aurora
venha me procurar
brilhando novo e forte
ou desaparecido de morte
um caso a se pensar

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Sal Água Agosto

"Nao fique triste"
Estava escrito no colo de um senhor de feições surradas e roupas rasgadas
"Nao fique triste"
Ia na placa da menina de vestido rosa e sorriso largo
"Nao fique triste"
Nome da banda que gravou um disco de nome Tibet
"Nao fique triste"
Dizia o avô para seu neto no leito de morte
"Nao fique triste"
Cheiro forte exalado pelas flores de um certo jardim de infancia
"Nao fique triste"
Relato diario de um Sol que nao cansa de ser pontual em cada pedaco do mundo
"Nao fique triste"
O pai teve a impressao de ouvir o filho dizer depois de ser repreendido
"Nao fique triste"
Mantra que nao se cola atras de uma porta que feche
"Nao fique triste"
E o que meu teto, meu quintal, o sorriso do meu amor, as roupas no varal, os post idiotas, os posteres do meu quarto, o filme da sessao da tarde, o terceiro cigarro, a camisa do Botafogo, a cerveja gelada, o chuveiro queimado, o abajour da cabeceira e meu sorriso no espelho insistem em me dizer, dia sim, dia nao.
"Nao fique triste"
Um dia eu decoro
nao demora...

inVariável

Abandonado, sempre me sinto
com um toque
Cruel afago...
X
Corto caminhos aparando os pêlos
menos isso, aquilo
Só, evito se
Sê de, só de sede
à água sim, cede
O resto?
Nao phode.

Voltaciturno

Eu nunca
traço planos
ou rego plantas
Metas serão
certas loucuras
de acertos casuais
Revigoro-me
rabiscando notas
que notam despreparo
Mesmo sendo eu
um mero Quixote
que vira Homero no final

domingo, 21 de julho de 2013

Ator Mentado

As pessoas são complicadas
flores na janela
A muito querer em todas elas
um Sol que volte a brilhar
Tem vezes que são tantas
folha caindo no outono
Que uma só basta
orvalho gelado no rosto
Tenho medo do que quero
harmonia no canto dos pássaros
Faço mais do mesmo por merecer
fruta doce do pé
Gente que me inunde e mude
sorriso de recém nascido
É preciso esquecer
horizonte em alto mar
Hoje ninguém tem tempo
anoitecer sem estrelas
Pessoas são coisas
chuva que alaga e mata
Há muito a perder
cerveja choca
Sucesso é o que interessa
banho quente no verão
Sorrisos cada vez mais caros
rio poluído e sem vida
Há mais amor de TV
há mais amor na TV

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Insólita Fricção

Tem gente que tira foto,
eu tiro uma soneca
Tem gente que põe filho no mundo,
eu boto pra foder
Tem gente que dirige embriagado,
eu escrevo
Tem moço que vende bala,
eu compro e agradeço
Tem por ai muito mal caráter,
eu conto: um, dois, três
Tem vezes que não pára,
e eu mereço na cara um tapa
Tem tanta coisa,
enquanto eu finjo não ter nada.

domingo, 14 de julho de 2013

Tabuleiro de Gamão

o sucesso de uma poesia
(ou linhas esquisitas)
está na sabedoria
(ou esquizofrenia)
da conjugação
(ou assunção)
de vários sims
(e nãos)

Beijo no Hiato

[Angústia]
essa bateu-me à porta a pouco
hiato prostrado ao seu lado
deixei que só ela entrasse
sussurrou no meu ouvido o de sempre
respira e tecla
acabo de enxugar-me
alma lavada

Até mais ver, folha em branco
beijo no hiato

[feita para dialogar com Guilherme Aglio]

Poeira na Beira da Cama

O que lhe faltava em força
lhe sobrava em covardia
sua atitude
sempre a mais tardia
Coberto por escarnio e dó
sem modo de voltar
seu coração era um nó
Doía-se de momentos passados
cavalos mortos e enterrados
não corriam pelos campos
estava cansado
Deveria seguir em pranto
enquanto os bons faziam dos belos
cantos, um escândalo a ser exaltado
Baixo, narigudo e calado
esse deveria ser o seu fardo
para o resto do calvário
a percorrer em cima
da mesma sola gasta do velho sapato.

Constrangedura Força de Pena

às vezes
essa
vontade de não
ser mais
sê Ás
em manga
vazia
pois doce
pós dócil
na virada
do mundo
criado mudo
só um vulto
sombra minha
são todos (d)eles
maço e trago
o frio de lá
o fogo
calor gelado
sei não
mais do que
preciso
conhecer, mas
limitado eu ser
eu mentir
eu dizer
pôde ter
de se entristecer
Às vezes custa
ser Ás
todo
0
tempo
eis minha
tripa de colóquio
silenciosa
sopraria
trompa de Falópio
para ecoar
bem querer
a quem bem
quisesse...

segunda-feira, 8 de julho de 2013

milEUma

Motivos lhe faltavam aos montes
Sem isso, estaria pronto para ir longe?
Do cume calmo do olho de Raúl
vislumbrou áurea aurora
No ouro dos tolos cuspiu sangue,
mostrou os dentes
e riu riso frouxo
Desgosto?
Capricho de quem deixa de...
Bem aventurado seja
todo ser que veja
além das vastas fileiras
de malditos e derrotados
marcados a ferro e trabalho escravo
impedidos de sublimar
o espirito alado
e explodir no instinto máximo
de vir, ver e viver!

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Conflito Indeinfinito

Essa tua história
de me ligar a toda hora
me cansou de vez
Esse papo chato
que entre nós tá tudo errado
expõe tua pequenez
Toda hora é momento
de o telefone ser meu tormento
"Deve ser ela outra vez".
Juntos somos uma parada
mas ao longo dessa estrada
você já não faz por merecer
[paro e penso: "e daí?!]
Agora pára de ser chata
arruma esse sorriso na cara
que eu tô louco pra te ver!

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Tudo Na Mesma Mudança De Sempre

Maltrapilhonismos e satanismos à parte, morfologicamente falando, tá tudo uma boa merda!
Posterior ao tratado de tortas ilhas, fingindo ser mais importante que Breton Uds e sentimental tanto quanto o muro de Berlin, as peças desse jogo tosco se movem.
- Esqueceu de regar as plantas da varanda dos seus sonhos imundos. Volte 10 casas - 
Tudo é motivo para boas risadas, não acha?!
E se voltássemos com a palmatória, você chiaria ou jogaria novamente?
AH! Falar dos mortos é facil. Esquecer do sofrimento das mães no túmulo dos seus filhos, jovens bravos e sem corpos a velar, é tão corajoso quanto empinar pipa em terreno aberto.
Deixa de ser mesquinho e vibre com a seleção!
Nunca teremos mais gente na rua do que formigas carregando uma pera em pique nique no ibirapuera.
Que fique bem claro: todas essas ondas de manifestações são fruto de uma debilidade intelectual dos nossos antepassados!
Sem mais nem menos, como comecei, termino. Do nada! 
mas com tudo em cima!

terça-feira, 25 de junho de 2013

Tic Tac Tou POW POW POW

A cada minuto
sessenta segundos
de uma nova estória.
A cada sussurro
é só mais um burro
que pisa na história.
A cada mergulho
um menino escuro
vai preso lá fora.
A cada distúrbio
do governo o recuo
estopim, barril de pólvora.
A cada insulto
o povo de luto
reescreve seu futuro
desviando de bala de borracha
e tiro de pistola.
A cada número
omitido na nota
a população bola
pede mais escola
na rua se revolta
cansada de esmola
marcha pra vitória
enche horizonte de glória
e o país de orgulho.
A todo minuto
é chegada a hora!

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Daquedas de Sempre

"Doce como a dança!"
Em meus delírios assoviei.
O verso certo nessa andança
se esse, nunca saberei.
Só senti essa pujança
de falar o que falei,
para essa moça de nome Ana
que não sei por onde anda
mas meu carinho dediquei.

6 Culpa

Cidadão, manifestante, fascista, ufanista, estudante, proletário...
tudo junto ou separado,
certo ou errado,
me julgo culpado:
Sou poeta!
Pode descer o sarrafo.

Revolucão 1/2 666

Eu quero ouvir o estouro da boiada
a água descendo o morro
levando tudo em enxurrada

Eu quero ver o fogo arder
de um baque surdo e só
a fundação estremecer

Eu quero que tudo se exploda
o raio que o parta
e o cachorro que te morda

Eu vou me esgoelar
até o fim do mundo
eu vou gritar e vomitar

Até que tudo volte ao normal
outra vez.

Eu quero...

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Anda Manda Outra Vez

Pronto!
Sim!
Fim!
Reticências...
Bifurcação
Dúvida?
Escolha!
Pra lá ou pra cá?
Não!
Determinação.
Tem um pouco para todos
Menos um para poucos
Sobre todas,
a virtude,
de Ser ponto
ou virgular.
Continuar...
Ontem eu vi
num filme
que na
Índia
Paz é
sinônimo de
Movimento.
Então,
CORRA!
ou morra pois
estagnar é
Nunca
a Paz
alcançar.

terça-feira, 11 de junho de 2013

Stô Nem Aí

Dura essa vida de pedra
que tanto mar bate
até que fura
Fulguras escassas ao longo da vida
que tanto mar molha
até que brilha
Gente musgo se encosta
que tanto o mar olha
até que leva
Sentimento em forma de cascalho
que tanto ao mar joga
até que afunda

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Ordinário Sopro

Axé, Evoé, Guaxupé, Tamandaré
Itapemirim
Sagui, Muriqui, Birigui, Juriti
Araraquara
Santa Fé, Praça da Sé, Canindé
Belo Horizonte
Moçoró, Cabobró, Xororó
Ananindeua!
Inviável pela semelhança física
espaços dotados de carisma
por onde sai o som
Delírio sem força mística
unidos pela única característica
de onde vem o tom

sábado, 8 de junho de 2013

troça desprovida

é verde, alivia e dorme
enorme vontade de amarelar
dois pra lá, dois pra cá
deixa-me explicar
essa coisa cinza
na esquina
é de um vermelho tosco
não tem joão bosco
que a faça melhor
quebra de ritmo é bom
muda o tom da conversa
deixa a coisa mais serena
cada vez menos frequente
a antena
é substituída por cabos
e rabos salientes gostam da mudança
só não perca a esperança
de ver desnudada a moça
que espanta tua fossa
depois de ver aquilo rosa
entre suas coxas grossas
entumecida tua glória
enorme vontade de...
amarelou!

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Coroa Emburrada

Sei do que não vejo
prefiro afirmar que sim.
As incertezas eu viro do avesso
pois é melhor assim.
Para mim, o mundo são favas contadas,
por histórias bem amarradas,
caminhando para o seu fim.
De que vale a clareza
de ter menos certeza?
De que valem as dúvidas
se há tantas verdades à mesa?
E não me venha esclarecer!
Sou rico de viver,
sei de tudo que há pra conhecer,
e não é agora,
perto de perecer,
que hei de voltar a viver.
Sou senhor de minha muralha.
Rei de uma fortaleza intacta.
Não há de me convencer!
Já é tarde demais para sonhar,
ou o rumo do mundo (tentar) mudar.
É chagada a hora de calar
mas sem antes constatar
com um surrado coração que diz:
'A vida foi boa, meu caro
fui triste mais sou feliz.'

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Pelo Final das Contas

Tem dia que
a poesia
não
acaba
Tem dia que
a poesia
não
sai de mim
Tem dia que
a poesia
some
Tem dia que
a poesia
dorme
Tem dia que
a poesia
...
Tem dia que
a poesia
é só
escrever

quinta-feira, 23 de maio de 2013

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Nouãn


Lá vai mais um alguém
um alguém simpático, um ente querido
de outro alguém.
Um alguém qualquer, à primeira vista
porém, esse alguém
pode ser artista também!
Cidadão correto, um exemplo de caráter,
um bom filho da mãe,
faz o bem sem olhar a quem...
Pois bem,
esse alguém também sofre
chora na calada, de coração partido
por não ter outro alguém.
Numa dessas noites frias de outono
com seu headphone tocando em mono
esse alguém triste choramingava
num dos becos escuros
enquanto ninguém observava.
Assustado com a sombra de ninguém
aquele alguém se acoou
pois é sabido por todo alguém
"Nessa vida nunca seja um ninguém!"
Mas o ninguém lhe estende a mão
e o ajuda a se sustentar, de pé se por
E nesse momento o alguém percebe
que ninguém é normal,
nada mais natural,
porque esse ninguém também é um alguém bem legal!

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Marcenarios Aquáticos

Poeteiro sem paradeiro escreve no letreiro assim:
"Dizem que foi ontem depois da aurora..."
As bocas se perguntavam quem seria capaz
de açoitar o rapaz, já com problemas demais
sem contar jamais a quem quer que seja.
Mas isso já não tem importância,
haja visto tamanha jactância
em toda essa lambança,
perto da lembrança de uma manhã sem Sol,
uma isca sem anzol,
uma linha sem cerol
ou um caminho escuro sem farol.
Tardes quentes embargam de lágrimas
olhos distraídos.
(os meus, é claro)
Poeteiro primeiro,
moribundo segundo
quando chego em terceiro
Vitória é gloria,
de gente esclarecida,
por mim desconhecida.
A minha vida
eu conto de dois em dois...



Fuleiragem Balzaquiana

Parece fata de inspiração
quando se perde o tesão
de dizer o que se quis...
Onde era o memento ideal
pra ser feliz
em vez de sabido
Tanto trabalho pra...
Mágoa de não ser
quem eu sempre sonhei
e achei que fosse
Um triz,
por ele escapo de mim
Eus,
na sua maioria infeliz
Momento oportuno pra se contar uns por dois
sós
Ao amanhecer serei lírico até morrer
Daqui uns minutos
no sono dos angustiados
dos que nunca foram sorteados
ou primeiros colocados
Sou eu quem me deixa de lado
fadado ao destempero da
falta de zelo pelo olfato
Feito barato se repete
um dia vou entender
para que serve saber
quanto é 7x7
e porque insisto em escrever.

Lobo Adolescente


Amargo no gosto
de trago ingrato
Visceral
poder maculador
de salas vazias
espalhadas pelas cabeças
sadias só de dia
quando está claro
Forte apoio para montanhistas
sem abismos pra escalar
(preferem confortáveis almofadinhas)
Salta da boca furtivamente
é o aperto rancoroso na caneta
Não se vê letra
sangue sem suor
lágrimas pelo pior
de quem quer que seja
nele veja saída
Não vida
Segue cego no tiroteio
armado até os dentes
que trincam de ódio
Por onde veremos o fim?
Pelas vidraças furadas de balas
Pelas janelas cerradas da clausura
Apura teus modos, sem o derrotismo lógico
abstraia e saia

Gaiola não é lugar pra passarinho triste
por não ser gaivota
Voa pra longe
meio sem querer
e o amor
feito asa vai bater
à sua porta
tímido e doido pra te ver.

Ao abrir, feche, por favor.


Onde se acorda pro mundo nascem mais Sóis do que sonhos.
Alvorecem estrelas pela manhã negra de beleza incomparável
É fácil perceber o mundo inteiro, basta abrir a janela do coração
Montanhas de concreto cortam o horizonte, muita ternura é preciso pra ver
A chuva voando leve lá fora é turista, cai de longe, urgente, desejosa de um beijo ou um abraço
molha o ar e escorre pela realidade sem se importar em quem respinga
ou com a falta de imaginação dos que dela correm
Ora verdade ora oração, os que vem e vão sofrem da mesma vontade
de sorrir ao fim de tarde ao lado de boa companhia assoviando qualquer canção
de preferência as que tem bom coração e mal comportamento (canção e companhia)
Grandes talentos os que não se furtam em desejar sincero 'bom dia'
Como o de Drummond à moça (queria ter sua astúcia)
Nuvens não impedem a luz dos Sóis de beijarem seu rosto fatigado
e nele dar e ganhar vida
Recomendo um voo doce pelo jardim da alma do outro, onde um olhar mais aguçado pode perceber muita coisa, mas só um atento olfato capta a necessidade de ser nele um outro quinhão de si mesmo. E isso é só o começo...

domingo, 12 de maio de 2013

Pulei Sarado


Ei!
vira aqui
sai por ali
salta de banda
corre deitado
e fica pelado
pisa com calma
alivia a alma
queira
espreita
some também
e volta pra cá
depois ou agora
se importa
de duvidar de mim?

Multilamentação Anunciamentada


Demônio esse que dá surra
em dedos cavalos
por eles, arte sussurra
por pêlos eriçados
verdades desnuda
dessa vez quadrado
entretanto
mundano e com cuidado
para não soar amarelo
Terminologias a dar
te faria menos melhor
motivos alados
beijam o assoalho
com olhos esbugalhados
passam longe do querer
desanimo fácil com minhas atrocidades
tenho muito o que escrever

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Proto Memo

Prefiro ver menos
no escuro
onde nada
tudo
é pouco ou quase
claro
quando muito
se espera
de outro
mais ou menas
vezes
ponto

sábado, 27 de abril de 2013

Parentesco Fluvial


Plural é ser mundano
ir andando por aí
destronando reis, assoviando ao meio dia
Recusar convites é uma péssima ideia
pra quem quer viver de pé no chão
Mesmo sem um quinhão, siga numa boa
ouça o canto dos passarinhos, o esgoelar das cigarras
tão poéticas e dramáticas quanto o William
mas ele não morreu cantando
ponto pra cigarra!
Destape bueiros antes que explodam, é importante!
Segure-se no cabelos do primeiro mar que brotar no horizonte
Deixa aquele azar, o seu, ir pra bem longe
sem carona pra voltar
Não desconcentra, olha pra lá!
Olha como os homenzinhos vão de lugar em lugar
carregando coisas importantes, papéis assinados
mas são incapazes de fazer um sorriso brotar de um botão de flor.
Mostra pra eles como faz!
Descortina a realidade e chama o Descartes
e o Neo também
aposto que teriam orgulho de você!
Segue feliz
enchendo os olhos de cupcakes
e a barriga de guloseimas
coloridas, gostosas, novinhas
mas nunca deixa de lembrar de esquecer
o que você veio fazer aqui
nada, eu disse nada
além de passear
é só uma voltinha...

Cadeira Aguda


Traqueostomia deixa marca no gogó
Gente perneta pula de um pé só
Homem que faz arte, vive feliz mas cheira pó
Dona de casa dedicada só toma no fiofó
Nêga quando rebola nêgo diz que tem o borogodó
Poeminha mais sem graça, chega a dar dó
Pra dar um gostinho, joga mais camarão no bobó
Se tá sem mel, come a delícia da vovó
E deixa que os netos se enfrentem no totó
Se você gosta de bagunça, está formado o quiprocó!

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Camafeu D'eu


Vivo atras duma moça com o sorriso bonito
e não pense que é coisa louca o que vos digo
E ela tá sempre, viu?!
Todo lugar lá vai aquele janelão
feito garça de asa aberta
Fico doido por ela!
Mas não amoleço não
vê se pode, cidadão
escrever poesia,
isso é coisa de sujeito são?
Mas fazer o que, me diga
adoro aquele sorriso
por ele eu corria de biga
mas sem aquela coragem do ben hur
sou mais acanhado, gosto de ficar de longe
a onda não é ter, é ver
por isso
vivo atras duma moça com o sorriso bonito

Irrefreável


Caminho pela sombra
os dedos, em cheio
palavras mudas
escrito sem jeitos
a carne nua
sofista perfeito
a testa sua
escorre respeito
a pele tua
move nevoeiro
ação escura
a rua inunda
o verso desgruda
cai a certa altura
quebra como vaso
se entrega como prostituta
faz um estardalhaço
e finge que tá tudo bem!
eis o escárnio

Mais um pouco um muro se erguia...


Do jeito de antes era melhor
penso menos, morria mais, inventava moda?
Bobagens escritas em papel de pão
ora mordiscadas, inexoráveis, baleias e leões marinhos
Duvidava das pretensões, confiantes mais do que confidentes
os pés.
Gosto de como cheiram ao caminhar, havia muita tolice por onde passavam
os tempos mudaram, dizem os mentecaptos, dura observação
Aos poucos é como se levitasse
saísse de órbita.
Fuligem se acumula do beiral da janela
onde os sonhadores apoiam seus cotovelos
pega fogo acolá.
Sobram poucas retinas historiadoras, contadoras de causos fantásticos
os tempos mudaram.
O cataclisma se aproxima,
salvem seus corações!!!

Ato Findo


Sobe no alto do morro
do seu peito, meio torto
debaixo do torso, seu moço,
e tira a medalha de lá!
Mostre ao Sol
teu canto de rouxinol
dedilhando o arranjo
pelas linhas do violão
Agradeça o valor,
seu sorriso na cadeira,
da amizade em mesa de bar
antes de ontem, em plena quarta feira
afinada em Dó
maior
menor
menas satirfação
o cheirinho é o ó
seje noite, seje dia
a bater na guarita
seu seguro de vida
ou o cafuné de volta!
Mostra pra essa gente
como apertar o botão
e quanto é gostoso
(até então)
ser infame, soberbo
maroto e garanhão!

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Da Crase à Crise

Minha onda é ser azul
Infinito insular, anis
sentado na beira do mar
Ouvindo vozes de lá
- vem cá
Sobressalto vermelho jorra do peito
me faço só com meus cabelos
Desato os fios com as mãos de meus sonhos
Findo o ato do silêncio
oro por ouro
olhos dos outros
ossos eu ouço
roer a corda
de choro gostoso
lágrimas caem cintilantes
verbos, adjetivos e consoantes distantes
já era hora de acordar
ordem: recomeço
logo adiante
tropeçar
de novo
o tolo
mente outra
vez

quinta-feira, 21 de março de 2013

Darrachadura Pouco

Trav[o]ei nos devanem ao menos, mudei!
Mundei-me, disse Eu, por umA caso.
Poemais de menos, à Vêrnus nóis duros lá
Sugado, pós mastigado novo, rebelde!
Palavras atam, palavras libertam
O tal gap...

segunda-feira, 11 de março de 2013

Desmente Baixo


andando em circulos
houve momento
o doce pode salgar seu sono
fingimentos
trapaça sua, morbidez eloquente
tanto por tempo indeterminado
faz coro o miolo com fermento
sobe mas nem sempre cresce
se fosse do avesso...
senta menos, corre mais
vive sem gravidade
o mundo vira suas pernas para o ar

a semelhança distante do acaso


Dado um fato consumado no mato
Fora de hora, uma torta de amora
Amei, pensei, ser rei
E o pato foi pago com trocado
Ora dora na aurora lá fora
Demorei a ver o que serei
Uma ova, gritei, contrariado
Favos contados em trova eu não considerei
Eis o fato desvendado e...ninguém deu bola

segunda-feira, 4 de março de 2013

Lob.a.to


É nessa hora que a loba veste a roupa e vai a caça.
Inocentes, as presas andam desavisadas. Correm risco grave.
Nos pontos de ônibus, na frente das vitrines das lojas.
Todos são vítimas do perfume inebriante que sobe do vão entre suas pernas.
Um cheiro doce de fazer arquear de quatro o mais celibato dos homens.
Que faz suar a nuca da beata mais fervorosa.
E ela quer sempre mais.
Dizem maravilhas sobre sua caçada. Nenhum morto de tesão, mas todos feridos de prazer.
Longas avenidas vermelhas pelas costas, por onde trafegam ardências deliciosas.
Botões roxos como glandes, espalhados pelo pescoço e pelos quadris, pernas e braços.
Ela não tem brasão, deixa marcas registradas.
E some...
Nunca foi vista e é sempre lembrada
a cada lambida de mamilo dada nos motéis da cidade, a cada cantada suculenta, cada olhar tarado...
Vem como um vento a uivar. Te faz arfar baixinho.
Esquenta tua pele, até que implore por uma lambida.
Treme as pernas e entumece o desejo, faz de você instrumento
se prepare, o show vai começar!

Fragimento


Se por um segundo passasse uma vida, como estancar a ferida?
Olhou para o futuro e bocejou conformado. Não há nada tão errado.
Fez do instante um caderno, cheio de pautas, margens e um texto pós moderno.
Salvaram-se todos, menos a maioria.
Era apenas o momento certo, nada mais viria.
Cego aos olhos vibrantes, alegres cantantes desfilam ao meio dia.
Suas palavras tão bonitas quanto o fim da esperança
essa dança em que o coração chora de vontade
mas ainda bate e balança.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Até parece à Kg...

Fica esse disse me disse o tempo todo
fulano isso fulano aquilo outro
ninguém me respeita, taco um ovo
fulaninho é bonitinho, mas age como um porco
Parece que espalharam espelhos pela cidade
as ruas já não tem mais aquela tranquilidade
Somos do tempo de tamanha conectividade
enumerada pela geração 3 de conexão
que não pega no celular que me levou o ladrão!

Turbalina, minha querida, traga-me um chá!

Ensaios destalentosos de meu desalento em perceber ser menos poderoso.
Desestimulado, continuo tentando.
Tentar não é conseguir, que fique claro, mas é um desestimulante perfeito pras oras vagas...que são muitas, talvez menos aproveitadas como deveriam, porém vívidas em intensidade sonora (e plástica).
Disfunção digital movida a palmadas nas costas da mão, escrava de um coração menor que um limão e tão ácido quanto.
Sei menos sobre inversão do que deveria, costumo usar isso ao meu favor e escrever sempre de ponta cabeça, ombro, joelho e pé.
Joelho e pé descalso para pisar no solo sagrado da folha em branco.
Exercitar o hálito é preciso, já tinha me esquecido de como se faz desinteressado aquele moço desenganado que só queria um amor para amarrar no pé de sua individualidade que cresce sem vontade de retroceder.
Rufem os tambores, o sinal fechou, preparem-se para a orda de solitários que vai parar para outra multidão de tristonhos bípedes sofrerem mais um pouquinho sob Sol forte.
Desconfigurando as formas de se avaliar um corpo estranho, faço desse texto um emblema, afixado corretamente no peito, desfruta da aprovação dos olhares certos.
Nisso as formigas se preparam para atacar o açucareiro. Eis que a mosca chega antes e...
Nada mais natural que escrever quando se quer escrever. Criar pra quê se eu ainda não sei o que vai ser? Poetisar desanimou o dia. Demonstrar afeição por letras, fonemas e palavras monosilábicas me conferem o talento de aferir ditongo oral crescente em fila de banco e aguardar por fins esdruxulos por onde passo.
Por exemplo, por aqui.

Infantologia Sórdida em Dó Menor

Não sou doce pra me sentir tão amargo
façamos um trato
Deixo-me esfumaçar
e você me resolve com um trago!
Mas que saco essa peleja social
tentar parecer para o mundo
o que não é real
Jogar fora sorrisos sinceros
pra se fazer de marginal
Bancar o duro na queda
e se acabar no sonrisal
porque, afinal
ninguém tá interessado na verdade
isso a gente vê na TV
aqui, fora, joga-se conversa
chora-se solidão
reclama-se pela falta de tostão
e a principal preocupação
é de se sentir especial.
-x-
(de preferência através do reflexo
dos seus desejos mais íntimos
e carência mais infantil
na retina dos olhos
de quem você vai mandar
pra puta que o pariu
quando o próximo corpo sarado passar)

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Distante do Meio da Sala

Queria eu poder parir perdão
como a mãe natureza pare verão
em cada amanhecer

Viver é mais que uma caminhada
solitária nessa estrada
às vezes desviada por mal entender

Sonhar com o futuro é como
pagar multa e juro
por não ter menos o que temer

Por isso vejo estreito o muro
fronteira entre a terra
e o céu escuro, cobertor
dos artistas e de mim, escritor
equilibristas indecisos
incansáveis dançarinos
caem bem aonde for

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Conto Final


Olhou o relógio e conferiu as horas.
Pra sua surpresa elas indicavam os exatos instantes antes do momento certo. Cobre o pulso com a manga do paletó de corte impecável, pega a maleta repousada no chão ainda úmido da chuva de ontem e segue assim que o ponteiro grande insinua movimento.
Seus passos são calmos, passos de quem sabe o que quer e tem um bom motivo. Bons motivos são a chave para o sucesso. Espera o sinal fechar e atravessa a alameda, a essa hora já circula um sem número de vidas, atoladas, fugazes, felizes, incompletas, trabalhadoras, todas em comunhão sem saber, desfrutam coletivamente de um lindo dia de Sol, daqueles de cores vivas e cheiros, sobretudo de grama, provocados por uma generosa pancada de chuva durante a madrugada. Poucos se percebem. Poucos o percebem. Segue em frente, dobra a próxima esquina e avista seu destino por cima do ombro esquerdo da linda mulher que vem em sua direção.
Ela o fita inteiro e depois de voltar com seu olhar da linha da cintura, solta-lhe um sorriso que, em primeiro momento, parece flerte, mas ele já viu esse olhar antes, o sorriso é apenas um convite aleatório desses olhos belos e tristes, vítimas da solidão metropolitana, que apenas desejam brilhar novamente numa mesa de um café qualquer após marcar o próximo encontro com o outro par de olhos cansados da mesma solidão cotidiana de quem tem mais o que fazer. Ele aproveita a barreira de seus óculos escuros para não dizer que sim nem que não e segue com a mesma calma para o enorme prédio que ergue-se no fim da rua.
Em frente ao edifício ele confere mais uma vez seu relógio. Sorri ao notar que está exatamente 1 minuto adiantado. Tempo suficiente para comprar um buquê de rosas na barraca ao lado. O vendedor, um senhor de idade avançada, lhe dá junto com o troco um sorriso gasto, de quem a muito escolheu essa tarefa tão árdua quanto poética, a de vender flores na cidade, e que hoje se pergunta se ainda há amor suficiente nas ruas para pagar as suas contas. Com o buquê em mãos ele adentra o suntuoso hall do prédio.
É um edifício comercial dos mais antigos do bairro, talvez da cidade. Chão frio de um mármore acinzentado e com grandes colunas sustentando os mais de 20 andares, transmite bem o vazio das ações que são tomadas em seu interior ao longo de tantos anos. Ele pára no meio do saguão, olha a mesmice ao redor e sobe seu horizonte para a altura do grande relógio que marca a hora certa bem acima da fileira de elevadores ao fundo. Por traz da bancada a recepcionista parece que o encara com desconfiança a algum tempo, isso lhe faz lembrar que toda vez que havia entrado nesse prédio ele se pegava fazendo a mesma coisa, palmeando todo o lugar com olhos curiosos porém acostumado a ver sempre a mesmas coisas, que no fundo são uma só; nada. Mas ele resolveu que hoje mudaria essa mesmice. Saúda a desconfiada recepcionista com um sorriso generoso na tentativa de baixar a sua guarda, o que de fato acontece logo que tira seus óculos escuros do rosto revelando um belíssimo par de íris de um azul tão profundo quanto as revoltas águas do mar do norte. Ele entrega sua identidade e recebe em troca um radiante sorriso, dessa vez um sorriso de olhos simpáticos, supondo uma inocente felicidade juvenil (ela de fato não aparenta ter mais que vinte e poucos anos ou ter sofrido desilusões suficientes). Aparentemente sem pensar ele retira uma das rosas do buquê e presenteia aqueles que até o momento foram os olhares mais sinceros que havia recebido naquela manhã. Deixa a ruborecida face da moça para traz e se encaminha para o elevador que leva até o penúltimo andar, ou o último andar acessível ao público.
Ao seu lado aglomeram-se pessoas, trabalhadoras, arrumadas, importantes e com muito pouco tempo para outras pessoas. São mulheres e homens em forma de lubrificantes das engrenagens da cidade, do governo, do sistema, que venderam seus sonhos para a mídia e pagam diariamente suas dívidas com dinheiro e com o que lhes resta de amor. Mas os cheiros inebriam, principalmente o da morena ao seu lado. Ela não é tão bonita e jovem quanto a recepcionista, mas é tão impecável quanto as engrenagens de um relógio suíço. Instintivamente seu pescoço vira para observar a beleza daquela mulher ao mesmo tempo que o pescoço dela também obedece aos seus instintos se virando para saber de quem eram o par de olhos que a fitava. Foi quando a campainha dos elevadores soou desligando ambos daquele momento, automaticamente devolvendo-os aos seus objetivos que continuam mas em elevadores diferentes. A porta se fecha e a caixa metálica sobe com cerca de 15 pessoas dentro.
Mais uma vez ele levanta a manga e confere as horas. Nesse momento uma menininha lhe pergunta se seu relógio está certo. Ele levanta a cabeça e fita sua mãe, que morde o lábio e olha fixamente para o ascender e apagar do número dos andares. Ele estende o braço e convida a menina a conferir o relógio por ela mesma. De dentro de sua bolsinha ela retira um belo celular rosa que mostra em seu visor que o relógio do pulso está adiantado alguns minutos, ela prontamente o avisa com um expressão de preocupação. Ele agradece quando a porta do elevador se abre e a menina é levada pela mãe que bruscamente vai abrindo caminho entre os outros ocupantes do espaço. Mesmo com aquela velocidade ele ainda consegue responder o aceno da pequenina mão da menina antes da porta se fechar. Uma mulher reclama da violência da mãe com gestos grosseiros. Logo um pequeno grupo dos ocupantes concorda e adiciona novos tons dramáticos a pequena sessão de tribunal instaurada no elevador. Sessão que leva tempo suficiente para a porta se abrir duas paradas depois e o "juri" se espremer para saírem todos ao mesmo tempo. Por fim sobram ele e a operadora do elevador. Ela fita o buquê e sorri depois de assuntar sobre a falta de romantismo nos dias de hoje. Ele sorri de volta, a porta se abre, ele aponta para o relógio como quem sugere que está atrasado mas que também aponta o tempo como causador da falta de carinho em um mundo com cada vez mais pressa, tira uma rosa do buquê e presenteia a moça antes da porta se fechar.
Enfim lá está ele, novamente encarando aquele andar. As lembranças boas e ruins, que já não fazem mais sentido, arrancam um sorriso saudoso do seu rosto. Ele se permite fitar todo aquele aglomerado de cubículos, um após o outro, enclausurando as pessoas em suas tarefas eternas do dia a dia. Os falastrões no repouso do papo amistoso ao lado da máquina de café ou da copiadora. O barulho ininterrupto dos telefones lhe chega aos ouvidos como um despertador e o tira do pequeno transe, confere a hora e começa a se encaminhar para o fundo da sala. Mais uma vez seu buquê chama a atenção de alguns, mas ninguém comenta. Alguns poucos ali o conhecem, já trabalharam com ele, sabem seu nome mas não ousam chamá-lo, ao contrário, viram seus rostos de volta para a tela dos seus computadores, ou apenas se calam e observam ele andar em direção a sala dela. De frente pra placa que identifica a sala ele para e calmamente bate à porta. Lá de dentro vem a permissão. Entra, fecha a porta e deixa atras de si olhos incrédulos e curiosos, sepultados num silêncio até então ignorado por ele.
Dentro da sala ele se depara com uma grande janela, cobrindo todo o espaço da parede de fundo com vidro. A sua frente um grande encosto de cadeira virando-lhe as costas. De trás do encosto um braço fino se ergue no ar com o dedo indicador em riste, pedindo o segundo suficiente para encerrar a conversa ao telefone. Ele calmamente repousa a maleta no chão de carpete e se encaminha para a cadeira em frente a mesa dela. Em meio as tentativas de conclusão de assunto que ela fala por trás da cadeira que os separa, ele perde seus olhos pela mesa, lá encontra uma fotografia dela ao lado do relógio informando além da hora certa, que o tempo é curto. Num movimento brusco e repentino a cadeira se vira e eles se olham pela (e como se fosse) primeira vez. Os olhos âmbar dela pairam demoradamente na imensidão azul dos dele. Sua expressão de incredibilidade se acentua quando enxerga o vermelho vivo das rosas se aproximando através do gesto dele. Ela se recusa a tomar o buquê nas mãos e se levanta com a tez tensa, tentando refrear um pranto forte que invade o peito, vira-se de costas e caminha para se abrigar na imensa cidade aos seus pés do outro lado do vidro. Ele repousa com cuidado o buquê na mesa, propositalmente entre a foto dela e a foto de uma criança, depois de retirar mais uma rosa se encaminha na direção dela que, pressentindo o movimento pede pra que não o faça. Ele obedece. Enquanto ela desabafa, entre soluços cada vez mais altos, e lamenta o tormento que foram os últimos dias ao lado dele e os outros tantos longe, ele olha mais uma vez o relógio. A tristeza aumenta em seu coração quando ela lembra da pequena criança da foto. A culpa é grande, mas não mais maior que o amor que sente ao ver ela parada ali, como toda aquela força enfraquecida, com toda aquela luz ofuscada por sentimentos confusos, incertezas e inseguranças, pelo medo de estar só justo agora, pelo medo de não ter mais as mãos dele para segurar entre as dela e pior, sem ter a certeza de encontrar conforto nelas, conforto infalível desde sempre. Sem força para seguir em frente, ela diz não ver mais motivos para continuar. Confessa sentir-se incapaz de amar com um tom de voz baixo, de quem desistiu da vida a muito tempo e vive uma vida conformada e confortada nas banalidades da vida adulta. Nesse momento ele, com a rosa solitária na mão esquerda, a abraça forte por traz e coloca o botão vermelho na altura dos olhos dela, repousa seu queixo no seu ombro direito e força um sorriso a naufragar nas lágrimas que descem dos seus olhos. A dor é grande mas ele não se importa, e diz pra ela também não se importar, que a algo maior na vida, e esse algo é o amor, o amor que sempre sentiram um pelo outro, desde os tempos da escola quando matavam aula na gangorra da praça do bairro e ficavam doentes de febre quando o outro faltava a uma aula sequer. Não importa mais se a vida não faz sentido, na verdade nunca fez, com suas regras, sua mania de apenas favorecer aos já favorecidos, de fazer sofrer os que nada tem, sua irritante pontualidade, no imenso fracasso que são a maioria das relações entre as pessoas, ou no movimento de afastar os que se amam de verdade pelos sentimentos negativos da maioria. E só valeu a pena, ele diz soltando a rosa e pegando-lhe os ombros para virar-lhe de frente, só valeu a pena porque ela sempre esteve lá, desde o início, e que não poderia seguir mais um minuto adiante com a incerteza de perdê-la novamente, de não poder confortá-la, de não ser o seu amigo, amante, amor. Ela o fita nos olhos, ambos os pares mareados de lágrimas, e repousa sua face no peito dele que a abraça. Seus corpos terminam a conversa com silenciosas juras de amor eterno.
O silêncio da reconciliação é interrompido por um barulho agudo que vem de dentro da maleta repousada no meio da sala. Então ele sobe a manga do paletó e confere a hora pela última vez com um sorriso aliviado.
"Que horas são?" - ela pergunta
"Hora de amar para sempre!" - ele responde aninhando carinhosamente a cabeça dela em seu peito. Ela sorri.
No segundo seguinte a sala vai pelos ares levando todo o mundo junto com o amor dos dois para a eternidade...




quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Valverde Ventura

Eu vou me voltar
voltinhas
Vou vacilar ventos
voltinhas
Vinte vezes, vou ver
voltinhas
Veias vão voar
voltinhas
Vou me vacinar
voltinhas
Vai tudo acabar
voltinhas
Vamos todos vomitar
voltinhas
Vim ver, só para enviesar
voltinhas
Vermelho vinho, vívido
voltinhas
Viemos, vamos, voltemos
voltinhas
Véu de noiva, volúpia
voltinhas
Envolta em vídeos
voltinhas
Vasos vazios
voltinhas
Vultos e devaneios
voltinhas
Eu versus Você
Vespeiro!

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Três Pernas

Singelo momento
de mover-se como o vento
feito pluma sorrir.
Ardor me vem a face
vermelho, meu disfarce
feito pluma sorrir.
Sujo de amores
experimento os sabores
feito pluma sorrir.
Com grande entusiasmo
tão inteligente quanto asno
feito pluma sirrir.
Nem grito, nem me calo
sou menino até o talo
feito pluma sorrir.
Chiste fora de ora
alegrou até quem foi embora
feito pluma sorrir.
Terceiro feto
que venha mais um neto
feito pluma sorrir.
Sozinho na escuridão
olho na cara da solidão
feito pluma sorrir.
Não há tempo de sofrer
regue o sonho até crescer
feito pluma sorrir.
Perdido na estrada
ou numa cadeira entrevada

feito pluma sorrir.

Peraltices Programadas

Naquilo que o mundo chia
eu invento poesia
Como o barbudo que arrota
quando acorda
arrebenta, pro lado mais
feliz da vida
Sem juizo o pato mia
no canto do olho, o encanto
em forma de pé de galinha
Como se fosse flor
com uma pitada de humor
a pesar dos olhares
finjo falso odor
e sensualizo por ai
passando por mais essa saia justa
mas do salto não hei de cair

Atino, Des

Só vou parar de escrever quando um mamilo na testa do ciclope aparecer.
E digo mais! Sabe quele ovo frito de olhar maroto? Fiz dele guardanapo na hora do arroto!
Mas o que importa mesmo são as centopéias, esmagadas todos os dias pelas rodas dos patins. Um absurdo!
E ainda dizem que Dali pra cá é longe. Não sabem que surreal é viajar de classe econômica, num Sol de -15 graus, do lado de uma Madame Bovary que só sabe assoviar chupando cana.
Pense bem, meu caro, já não bastam os avisos de "Pare" antes de cada metalinguagem, como podem os cínicos doutores descreverem voltas inteiras?
Estamos mesmo perdidos. E não há gps, gnv ou gvt que nos salve.
...só o ctrl+s

Vinte Tinha

São 20 dias de barulho
para cada um de trauma
São 20 dias de lágrimas
para cada um de tortura
São 20 dias de alívio
para cada um de culpa
São 20 dias de carinho
para cada um de fuga
São 20 dias de história
para cada um de desculpa
São 20 dias de alegria
para cada um de chuva
São 20 dias de animal
para cada um de pulga
São 20 longos dias de poesia
para cada um que sua a bunda.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Cheio de Maldade

Tão triste e vazio
que até o cinza lá fora
parece mais colorido
Poesia hoje
só amanhã
Amor tem
mas acabou

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Nem Pôs Isto, Visto

Nada do que antecede o grito tem fome de calar
Pelas veias o sinal de fogo se põe a arder intenso, frio trote cavalar em direção ao medo de quem vem lá.
Tomada de decisão é fundamental para adormecer o coração de mais uma longa navegada pela madrugada atormentada...
Outro espírito passou por aqui, mecheu na cortina e ficou na retina do assustado gato da Marina.
Evoca teu monge, o convença de que meditação boa é a praticada nos bares da cidade.
(Sinfonia de tsss das latinhas de cerveja deixam até peixe com sede, fala pra ele)
Sentimentos tropeçam entre si, tão bonitinhos
: )

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Esplodindo os Miolos de Pães Inocentes

Um formigamento por debaixo da unha.
Lembro da altura do teu olhar,
da tua postura ao me encarar...
Lá do alto saltavam executivos
pelos mesmos motivos
assassinos continuam a matar.
A lembrança se esvai
enquanto o suor escorre e cai
no chão duro que massageia meus joelhos.
É de novo meu algoz
olhar duro, sentimento atroz
Descuidado, barrigudo
não sou mais tão veloz
Tremedeira segue a dormencia
o corpo sente medo, paga penitência
de ter recuado quando ainda
era cedo demais...
Não há mais tempo
as freiras seguem pro convento
folhas voam ao sabor do vento
e o cano gelado na minha testa
corta a minha voz
Sua face é escura contra o Sol que a emoldura
engatilha o cão, meu momento de apreensão
o gatilho dispara o ponto final de mais um
sinto a bala entrar
e antes de atingir meu bulbo
sinto o cheiro do mar
e penso
naquela noite fria de confusão no bar
era lá que eu devia estar...

Calo

Morno mundo
e-mundo
o mudo
ou mudo-me?

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Douturas Ébrias

Metalinguagem por cima do trilhos de nailon que nos unem.
Jeito maroto de sabotar mal olhado com sabão e sal grosso.
Furtivos salames, quando astutos, fogem pelo basculante.
Quem ficou por último, o viaduto ou a ponte?
Levantamento aponta: sinais fechados ventão muito mais à noite.
Ganharia milhões, pois vagem sem caroço, rende mais frutos que engodos.
Suspeite sempre do telhado, pode não ser teto suficiente pra sua cabeça.
Garantiu o sustento dos brinquedos com uma pilha de momentos felizes.
Perdeu ilhas em diques de contenção, não havia necessidade de morrer naqueles instantes.
Concordemos na esquina seguinte, depois do hidrante te faço rir, antes de tropeçar não te avisei que ia cari, no próximo passo conversaremos sobre as pazes.
Xamego é bom e até porcos, chauvinistas, niilistas, assasinos e stalinistas fazem carinha de quem tá gostando demais.
Aqui fora costumava fazer menos frio, até que tesci casaco com uma 0.5, pensei positivo e vim.
Sempre paro pra pensar no que um ornitorrinco faria em meu lugar.
Levando em conta sua cota, mesmo sendo de malha, falta-lhe autivez suficiente para paparicar o sobrinho do seu patrão a contento.
Continue a chupar-lhe as bolas, você terá um futuro brilhante!
Como assim catarros não dão barato se até baratas voam?!
Sem motivos para arrepiar, sem gotas pra suar, sem vento pra soprar, sem bosta pra pisar, sem traseiro pra sentar, era melhor ter nascido mais alto.
Custou a acreditar na segunda trave daquele beijo roubado?
Farto-me de correntes de bar, todas são em prol do amanhã feliz de cada mundo embriagado em cima do balcão.
Ponte aerea do inferno até o chão, sem escalas ou lanchinho
Apenas travessuras...

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Bolinha Pluft Bolinha

Copo vazio
água
Copo CHEIO
água
Cachorro sujo
água
Cachorro limpo
água
Sede
água
Saciada
água
Vasa
água
Escorre
água
Falta de
água
Seca
água
Mole
água
Pedra dura
água
Bate
água
Fura
água
Torneira aberta
água
Torneira pingando
água
Pelo ralo
água

Ignóbeis Nobrezas da Alma

Se seus olhos são tristes
o que vejo ao debruçar na janela de tua alma?
Toco-lhe a tez cerrada com meu mindinho
o mais tímido nos dígitos
e te faço carinho demorado
Deixa cair a lona e arma teu circo pra mim
Crio picadeiro suntuoso, arquibancadas intermináveis
trago espectadores importados "made in china"
Todos vão aplaudir teu espetáculo
do palhaço oriundo do teu escárnio
ao Anão Pretensão, o mais alto da tua estima
Teus olhos vigiam minha ironia
meus dedos te ignoram
e te expõem mundo a fora
agora, ao voltar pra tua casa
te levo presente
um óculos escuros
pra você enxergar bem o amor da gente!

Nadando naquele Gap

Tem uma hora pra tudo
inclusive a do almoço
que não é a mesma em todo lugar
e não tem comida na maioria
Tem um dia pra cada pessoa
e todo dia pra muitos ninguéns
Tem consumo pra todo lado
no camelô é mais barato
só é mais caro pra quem se dá bem
Tem trabalho de sobra
e infindáveis engarrafamentos
dinheiro que é bom, também é insificiente
Tem gente que se importa
e mesmo sem gostar de jiló
tenta desatar esse nó
que os outros fizeram
amarrando o cararço dos ricos
estrangulando a lingueta dos descalços
Tem doido pra tudo
escravizão gente
picham muro
escrevem bobagens
são poucos
e são muitos.

Ponto Final

Sento e espero
Logo o ônibus passa
Olho no papel e confiro o número
Tem dias que não vejo números tão bonitos
e todos juntos, uma beleza!
Passa uma senhora com sua neta
sorrio para as duas
mas é o gato da menina que sorri de volta
espero
Uma pomba aterrissa perto do moço ao meu lado
sem pestanejar ele a chuta pra longe
viro o rosto, dou de cara para um anúncio de shampoo
lindos e sedosos os cabelos da modelo
beleza é tudo nesses dias tão estranhos
Passa um carro tocando música alta
uma mulher com um bebê no colo tapa os pequenos ouvidos
a criança não espera e chora
mas eu, espero
Finalmente, é ele dobrando a esquina!
Levanto feliz, ele parece ser refrigerado
sou interrompido pela visão mais clara
não, não é esse o número
sento tristonho e volto a esperar
De súbito me assalta o sentimento
de como é triste esperar
tanto que algo bom aconteça
como que o tranporte certo apareça
não nascemos para esperar
eis o motivo das pernas
elas estão aqui em baixo pra nos levar
nos pôr em movimento
Parar é mais justo que esperar
parados, observamos
esperando, esperamos
e só
nada de verdade acontece
Desperto do devaneio e cá está ele
com seus lindos números me encarando
mas, refém da coerência
deixo a porta se fechar e que ele se vá
Levanto, dessa vez feliz com o motivo certo para seguir em frente
Um menininho cruza meu caminho e sorri pra mim
aparentemente sem motivo
logo percebo que o motivo é a vida
abrindo uma janela depois da porta que fechou.

sábado, 12 de janeiro de 2013

Bobagens da Realeza

- Já olhei pela janela?
Essa foi a dúvida que tirou o sono do Rei
Essa é a astúcia que lhe faltava
Debruçar no para-peito
botar a mão no queixo
e assoviar pro amanhã
- Deixo desavisado todo o reino?
Protelou primeiro, perguntou depois
Sorriu de volta para o beija-flor lá fora
Quis voar também
- Avareza é fruto de menos sorrisos?
Ele tinha tudo menos isso
Essa roupa toda fez perder a hora
de abraçar o moço que limpa seu trono
Bobagens da realeza...
- Me sinto forte, mas me falta sorte!
Essa exclamação acalmou seu coração
e fez calçar suas (humildes) botas
- Vou sair pra ver o mar!

Sexta Semente

Sólido aquele ser só
Sofre são na solidão
Sábio sacrifício
Silêncio sepulcral
assovio seco
sofre censura sensual
Sucesso sem igual!
Subida saliente
sugere sorte
Sem sentido
cesso subitamente

Seria Serena Sereia

Me deixa desencantar
decantar os versos
desabrochar
na ponta do meu lápis
que não é rosa
é amarelo
e belo
não só por isso
seria omisso se me impedisse de falar
o quanto tem me ajudado
a tagarelar
pelas azuis
porém linhas
do carderno verde
Escrever como exercício
sem eira nem beira
nenhum precipício
ou perigo a espreita
Sou eu quem me rejeita
vez ou outra
só de brincadeira
Longe de mim ser a pessoa mais absorta
nos seus devaneios
Me desconcentro de mim facilmente
fica difícil de acompanhar
como impedir os passarinhos de voar
ou pedir ao Sol
[aqui do lado]
parar de iluminar
-me
dia e noite

Polinominal

Já fui melhor nisso
disso de perder o leme
no mar da carência
antes do Leblon
Navegar a vida
sem sentido, querer mais
menos tempero
desespero demais
(na pitada certa)
Descarrilou o trem do amor...
sou só, sou semente
da alma que se esvai
em terreno sem adubo
Tristonho segundo
me roubou a paz
me repito nesse som imundo
ecos do meu seio
escrevo sem sentido
regalias sem custeio
Tratamento covarde
de levar a vida na flauta
Sou tão pouco
me recolhi na poesia
aquela arte que os poucos que gostam
tem vergonha de assumir.

Circularidade Peculiar

Talento se mede pela
qualidade
numa razão de
pouco papelão
pra muita sacanagem
Inspiração vem mole
avaliação depressa
quando ninguém vê
é melhor
Escrevo pois fracasso
no trato entre
alma e mundo
nas letras me faço
covarde, sumo
Sou nada na terra
Rei no meu surto
Entre linhas
lugar maldito
me machuca, maltrata
Dor
lugar melhor não há

Números Fatigados

A primeira do segundo
Na terceira tentativa
Engato a quarta
nesse verso de quinta
Categoria de quem bebe na sexta
e perde o sábado tentando se redimir
Das decisões tomadas
das cantadas mal dadas
e das dores sentidas
Começo do zero
à esquerda

O Chiado do Chinelo

Água da chuva
do chão enxuga o seco
Encharca Chico e Pedro
Achada a trilha
enchergo o eixo
Enchido o peito
enxoto pra longe
a solidão, junto vai trovão
O chamado da chuva
e o cheiro do charco
deixam calmo
os ouvidos
e o chiqueiro cidade
muito menos chato.

Gorjeador

Feliz o homem que tira da certeza da cerveja gelada no findar da tarde a sua auróra.
Sente quente o coração e sorrir a alma.
Sua causa é nobre mesmo fora do horário,
muito trabalho é necessário para sentir-se menos operário.

Tártaros Fumegantes

Mais um fim de dia
Menos muitos finais felizes
Mais versos jogados no chão
Dramas insolúveis resolvidos
Mais filhos bastardos sem carinho
Na cama se acaba o tempo
é o prazo final das atitudes
auspiciosas ou mundanas
E o sono leva embora o esforço
e o valor da relevância
de cada passo dado
em cada esquina dos sonhos
Objetivos resumidos em agoras sucessivos
grandes movimentos
requerem esforço
tão monumental quanto
o da perna que leva a tartaruga
ao prato de comida
Eis aqui o fim de
mais um único
dia único
dia
seguinte

Umas e outras, auroras

Das incertezas do caminho
eu quero as pedras
Do findar da esperança
eu quero a fuligem
Do torpor de um amor
eu quero a lágrima
Da junção do sim e do não
eu quero a certeza
Da bifurcação na trilha
quero passar por cima
do muro que divide
da cerca que separa
do chão que sustenta
de tudo quando pára!