segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Letal Letargia

Eu queria só
saber junto
se contigo
dei um nó
ou era apenas
um absurdo

mente Sem vontade

Acabou a poesia em mim
Eis a prova
Já escrevi isso d'outro jeito
N'outra hora
Hoje, arremedo da prosa
Resto do eu d'outrora
Sem fome e motivação
Não crio arte nova
Sonho com meu futuro triste
Preso num presente,
do lado de fora

terça-feira, 12 de agosto de 2014

horiz0nte'm Mim

Eu gosto daqui
Essa cidade de suscinta solidão
Essa solidão tão necessária quanto mal compreendida
Me deixa calmo
Com vontade de penetrar mais fundo dentro de mim
Ficar nu perante meus olhos lacrimosos
E eu vou
Fico quieto ao som dos carros, buzinas
E do barulho das minhas sinapses
Caraminholas surfam meu consciente
Enquanto o lanterneiro, algo aqui dentro, passeia
Feixe de luz pelo tudo que sou e não sei de mim
Eu, essa coisa que não existe
Toma forma a cada minuto de ignorância
Algo se move por debaixo do capacho
À porta dos vários caminhos da minha cabeça
Estou agora em cada esquina dessa enorme cidade
Sou cada carro parado no trânsito
Sou cada pedestre impaciente
Sou cada apartamento de luz acesa
Serei menos desse todo a cada dia
E serei novo a cada memória do passado
Que se foi, que era, que nunca mais
Somos o que podemos ser
E o mundo
O que é de ser, de vir
Devir
O último gole no café à mesa
O último trago no cigarro que me permite a vida
Até quando?
Até logo
Até mais
Sentado no quarto do último cômodo do abrigo
Abrigo em mim mais coisas que queria
Alço vôos imaginários que não posso alçar
Pra que?
Por mais que insista em saber, busco saber menos das coisas
E das pessoas amor
Amor fati
Em vez de maldizer, afago
Afago em braços moles todos os males
Os assassinos, as crianças nas ruas, os pobres de espírito
Afago cada centímetro da faca que me dilacera as entranhas
Sofrer tem o mesmo barulho de uma boa gargalhada
De mãos dadas com os segundos do porvir passeio pelas suntuosas construções
Do imaginário coletivo, desses que se dizem loucos por não saberem amar
Sim, há amor em SP
No RJ, no ES, em AM
Há o que tiver que haver, há o que tiver de ser
Há o mundo onírico, há um mundo sensível
Há até crueldade cínica, há um pórtico partido
Passo em frente à tal tabacaria descrita pelo poeta
O dono está na porta e compartilha comigo aquele mesmo sorriso
Ontem e nos dias atrás de ontem, ignoraria como as massas o fizeram antes de mim
Hoje respondo, digo-lhes, de corpo presente e sorriso nas faces
Ele e tudo o mais sou eu, isso e aquilo também
Parto mais uma vez rumo a próxima esquina de mim
De ti e dessa cidade
São Paulo
Onde tudo é uma só pessoa
que se traduz em cinza, concreto, sonhos e gente apressada
O que será do amanhã? Ninguém responde por que não pode
Eis aqui o nosso amanhã
Feitura de um agora com gosto de amora
E uma rima torta como o sorriso de quem vai embora
Feliz por saber que a hora de partir é a mesma hora que se chega.

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Manso e Miragem

Desvios imprevistos sedentos por cortar
caminhos tortos
improvisar é urgente, ainda há portos a alcançar
ventos mortos
se não houvessem remos, seriam os sonhos a tocar
esse barco surrado
nessas horas que restam apenas braços
as utopias já são traços
do avanço sem trégua da desilusão
o peito puxa por corda um caminhão
e o verão já não se anuncia mais em sorrisos vespertinos
a cada manhã o feitiço do tempo
reprises de um futuro vivido anos atras
suspiros dissolvidos ao vento de correntes quentes

Seria notório salientar o que momentos insanos podem suscitar
uma larga experiência com submersão subversiva prova
ser a tristeza latente a quem não sabe esquiar
seja lá como ou onde for
por isso, caro onívoro, deixe de se queixar
ventos, atalhos, barcos e caminhos
vão sempre te fazer carinho
quando a luz do seu sonho titubear
acerte essa conta com seu espelho!

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Remédio de Falso Testemunho

Um idiota sentimental veste seu avental e pica a mula.
Astuta, a mula inventa história. É tudo lorota.
Mas o povo acredita, e cai na mentira.
O idiota, de faca na mão, pensa sua situação.
"Tô fodido, meu irmão!"
Como provar inocência, perante sua sentença
já executada pelo povo? Encheram-no de ovo.
Foi então que o idiota sentimental,
desprovido de um real,
arruma bela solução.
"Que se foda o povão! Eu quero é meu quinhão
de dignidade roubada."
Subiu no alto de uma escada, e gritou para o nada:
"Todo mundo aqui julgou, mas quem aí nunca pecou?
Dê-me a primeira pedrada!"
Eis que o silêncio se fez ouvir, até por quem não estava ali.
Até que a menina Entusiasmada, que tinha uma mira calibrada,
pegou do chão um taco e acertou o coitado bem no saco.
O povo todo riu, e em seguida aplaudiu
quando viram a mula passar.
Festejada por quem estava presente, ela era toda sorridente
sabia o que tinha ido armar.
"Idiota, seu tolo, não conhece bem o povo?
Eles gostam é de fofocar.
Esteja certo ou errado, bonito ou feio no retrato
vai sofrer por se importar.
Desça já daí, e pare de dar pití,
se não eu é que vou ter que te apedrejar."
O idiota desce os lances resoluto, soltando um monte de 'soluço'
sem saber o que fazer. ("Eu vou me escafeder")
"Mas o que levar disso tudo?" Ele não via mais futuro.
Apesar de não ser difícil perceber, ora veja você.
"A opinião do outro pouco importa quando a história já é morta.
Segue o caminho tropeçando, mesmo que dure só um ano."
E o idiota seguiu em frente,
bem capenga, certamente,
mas com vontade de sorrir.
Hoje ele escreve linhas de amor,
transforma em verso cada dor
que planta atrás de si.
Coberto de certeza
de que o mundo não é moleza
e um dia...
"...alguém vai saber o que eu senti."

terça-feira, 22 de abril de 2014

[NO] Você está pensando?

Esse é mais um post de desabafo
Esse também pode ser um post demonstrando carência
Esse post definitivamente é extremista
Esse é um post recalcado
Esse post conta como o show foi bom
Esse post é um pouco intransigente
Esse pode ser um post polêmico
Esse post é irônico
Esse post é um chilique
Esse é um post revoltado
Esse post dá feliz aniversário
Esse post é bem preconceituoso
Esse post é contra a misoginia
Esse post enfatiza o racismo
Esse é um post conformado
Esse é daqueles posts bem engraçados
Esse poderia ser um post sensato
Esse é do tipo de post blasé
Esse post reproduz notícia velha
Esse post é contra tudo
Esse é um post dos mais infantis
Esse post é uma corrente
Esse post revela muita frustração
Esse post fala de comida
Esse post promove uma religião
Esse é um post cheio de ódio
Esse é do tipo de post que resolve todos os problemas
Esse post é mentiroso
Esse post foi uma indireta?
Esse post é um poste
Esse post quer aparecer
Esse é um post que traduz a solidão
Esse post é um convite
Esse post é uma poesia
Esse post tem link quebrado
Esse demonstra ser um post interessante
Esse é outro post que protesta
Esse post é acusador
Esse post é hipócrita
Esse post merece comentário
Esse post é uma denúncia
Esse post promove o estupro
Esse é um post feminista
Esse post odeia pobre
Esse post justifica a homofobia
Esse post indica um bom livro
Esse post implora tolerância
Esse é um post de viés liberal
Esse post é contra o PT
Esse é um post sobre pesquisas que apontam...
Esse seria um post legal
Esse post só fala merda
Esse post tem erros gramaticais
Esse post concorda com você
Esse é um jeito diferente de postar
Esse é um post pós, neo, trans, ultra...
Esse post revela sua ignorância
Esse post expõe minha fraqueza
Esse é o post mais burro
Esse post me lembra a infância
Esse post aponta para o futuro
Esse post provoca nojo
Esse é um post ignorante
Esse post é um spoiler
Esse post foi mal formulado
Esse post prevê o fim do mundo
Esse post é triste
Esse é o ultimo post
Esse post não significa nada
Esse post é fruto do vazio
Esse post sou eu
Esse post é você
Esse post é uma bosta
Esse post não é...

sexta-feira, 4 de abril de 2014

À beira do Abismo o Relógio não marca Meia-Noite

Perdi o tom
o trem
e um tombo
O tempo é precioso
e corta
enforca
não me nota
Em cima de muro solto
pipa
salto
agulha
morro
de prazeres
Tanto lá como cá
aqui ou ali
desfilo
carne viva
na alça de mira
no fio da lâmina
desço da nuvem
são dois os gumes
Lucidez importante pra tantos
me falta nesse mergulho
a prateleira é vazia
nada na bolsa de mercado
futuro
há quem pertence
há imaculada razão
há de haver noção
entre o mim e ti
ou senhor que é conosco
de nome composto
como o vidro que me cobre
o rosto nesse poço
de vergonha
água e sal