terça-feira, 27 de novembro de 2012

...pero non troppo


Acontece que as pessoas esqueceram como amar.
Olhares destreinados não vislumbram beleza
gestos carinhosos não mais surpreendem, espantam
causam medo
Desconfiados e temerosos, seguimos pelas sendas das trevas
Cortaram a luz do fim do túnel por falta de assiduidade!
Vagamos pelas vastas ruas sem esquinas dos nossos medos
lá não cruzamos com ninguém
Enquanto isso decidimos "cruzar" com qualquer um do lado de fora
Sem emoção, carinho efêmero, melhor, não-carinho intenso
Sem dia seguinte, sem expectativas, sem vida
Vida que segue...
mas que vida sem vida é essa?
A poesia me ensinou que Amor é Vida,
mas a poesia está morta...
e os poucos que velam seu corpo
estão cansados de venerar a morte
Penso nos poetas que se foram...
Penso em engrossar as fileiras
só pra ter com quem versar
versar um mundo gostoso, de brisa quente
de gente viva e colorida, contando boa nova pra quem passa
Bom dia!
Mas aqui não há espaço, há guerra diária
um genocídio de sentimentos
descrença no bem feitor, no carinho a priori
O amor está esvaindo-se por entre meus dedos trêmulos...
Com os olhos marejados observo uma criança sorrindo
queria guardar esse sorriso no bolso da camisa
bem perto do coração
para sacar, apontar e disparar
alvejar todos esses assassinos que me cercam nas ruas
que me beijam a boca, que falam por mim, que não mais sentem
assassinos frios dos momentos sublimes, covardes que se calam
diante do inesperado gesto de ternura
cada vez menos frequente, e alegre, e espontâneo
Desculpem-me os meus pelas lúgubres linhas
Desculpem-me os seus pelos respingos das lágrimas
Sigo eu pelo caminho das pedras de cada dia
me inflando em amor escasso, e esvaziando em versos
O que será de mim sem todos nós?
O que será deles atados a tantos nós?
O último a sair que ligue a luz...

Um comentário:

  1. Muito bom. Me sinto assim às vezes, como quando as pessoas te olham mas não te vêem. Como quando você dá carinho de graça e recebe medo de volta. Porque dar amor é um sentimento tão forte quanto recebê-lo, e as pessoas esquecerem como amar.

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